Cabo Verde!

Curiosidades artísticas e culturais das ilhas de Cabo Verde!

– Manuel Figueira, um pintor cabo-verdiano

Primeiro projeto em nosso site relativo a Cabo Verde!

Como podem ver pelo trailer acima, o filme “Tarrafal – Um Campo em Morte Lenta” terá um alto nível qualitativo! Trata-se de falar de um espaço que pertence ao passado recente de Cabo Verde e que representa um dos momentos mais terríveis da história do país! Não deixemos o tempo apagar esse período! O filme irá refletir sobre esse processo de esquecimento, perguntando se a existência do espaço físico do Campo de Concentração garante a memória da sua história e do papel que teve como elemento de destruição da oposição ao regime de Salazar.

E o melhor de tudo é que todos podem ajudar este filme! Seja de onde for, esteja onde estiver, sua contribuição é muito importante para que o filme possa ser concluído e ganhe a visibilidade merecida!
Venha participar deste projeto único, que merece a atenção de todos os cabo-verdianos, dos portugueses e de qualquer pessoa que se interesse por história! Você pode fazer toda a diferença ao contribuir (seja como puder) para o resgate de uma parte tão importante da história de Cabo Verde.

Saiba mais sobre este  projeto e contribua no link seguinte: Tarrafal – Um Campo em Morte Lenta

https://i0.wp.com/www.zarpante.com/theme/zarpante/files/pitch_pics/thumbs/296x197/1/1_43e16767e33bb9324410000103de75cd.jpg

– Artigos sobre Cabo Verde:

– Tarrafal!

– Uma Morna bem quente!

Na verdade a Morna, desde que nasceu tem feito uma bela viagem, navegando através do tempo e dos espaços. Não ‘enjoa’ é boa companheira e expressiva, comunica e tem bom ‘karma’. Desde os anos 40 ou 50 do século passado, compositores e intérpretes levaram a Morna das ilhas para o Mundo. Fernando Queijas, Bana, Voz de Cabo-Verde, Jack Monteiro, Titina, Celina, Ildo Lobo, para citar alguns nomes, cantaram e ainda cantam a Morna nos países para onde emigraram os cabo-verdianos, contribuindo assim que outras culturas tivessem acesso a ela, mesmo timidamente ou de forma indireta.

No princípio dos anos 90, Cesária Évora começou a evoluir no mundo da canção internacional de forma vertiginosa, ao ponto dos críticos começarem a falar do «fenómeno Cesária». Nós sabemos que esse fenómeno, instigado por produtor e produtores clarividentes, agentes de concertos, músicos e compositores, jornalistas entusiastas e um público deslumbrado, se deveu simplesmente a isto: o canto profundo da Morna através de uma catedral imensa que é a voz humana, que foi e é a voz da luminosa Cesária.

Faz hoje, dia 16 de Dezembro, 1 ano do seu desaparecimento deste lado do Universo. E é hoje que se apresenta as Comissões para trabalharem num documento decisivo para ser entregue à UNESCO, de modo a solicitar de forma oficial, a Morna como Património da Humanidade.

A Morna é singular. Produto das migrações humanas que começaram no Séc. XV, das culturas europeias, africanas e brasileiras; tornou-se em poucos anos (devido ao génio criativo cabo-verdiano de saber adaptar à sua índole ao que chega às ilhas), numa forma musical única, sobretudo devido ao ritmo notavelmente sincopado, ao elegante evoluir melódico, à sua riqueza poética, e diga-se, a uma maneira de estar no mundo através da expressão musical.

Quando se ouve «Resposta de Segredo cu Mar» do compositor B.Lèza, interpretada pelo Bana, apreende-se de imediato aquela intemporalidade que é devida à arte e à expressão digna e genial do ser humano. É esta intemporalidade que torna a Morna eterna e que, diga-se, independentemente das origens etimológicas, é uma palavra igualmente singular, linda e cantante. Como poderia ter dito o escritor António Aurélio Gonçalves: «como uma moeda de prata rolando numa escadaria de mármore banhada pelo Luar de Abril».

Não tenho dúvidas que chegaremos a bom termo deste trabalho, isto é: sensibilizar a UNESCO, através de documentos científicos, poéticos, históricos e em formato áudio, legitimar a Morna como Património Mundial da Humanidade, estatuto que já têm outras formas musicais de outros países.

Avancemos então: energia, esforço e vontade de chegar ao fim!

 – Vasco Martins

Ribeira de Calhau (S. Vicente), 16.Dez.2012

Fonte: Esquina do Tempo

– Kriol Jazz Festival – Praia

Em países africanos de língua portuguesa existem línguas nomeadas ”crioulo”. Acreditamos que façam parte de um legado cultural mundial a ser preservado e divulgado.

Por isso estamos de olho neste festival! Segue abaixo um resumo encontrado no site oficial do festival.

Após a edição inaugural em Abril de 2009 e o sucesso das edições de 2010 e 2011, o Kriol Jazz Festival – Praia irá novamente fazer vibrar as ruas da capital cabo-verdiana de 12 a 14 de Abril de 2012.

A programação desta quarta edição apresenta alguns dos artistas mais notáveis da cultura crioula, proporcionando um evento rico em encontros musicais e humanos.

Após ter prestado homenagem a Horace Silver e a Codé di Dona, será Cesária Évora a homenageada deste ano.

Capital do país, a cidade da Praia está localizada em Santiago, a maior e mais populosa das ilhas do arquipélago de Cabo Verde, a 500 km da costa do Senegal. Historiadores consideram que nesta ex-colónia portuguesa que se formou a primeira língua crioula. Cidade Velha, aquela que foi a primeira capital do país, foi recentemente classificada como Património Mundial da Humanidade.

O Kriol Jazz Festival – Praia tem uma periodicidade anual e decorre na ilha de Santiago, com uma programação distribuída por dois dias. O público-alvo é ao mesmo tempo nacional e estrangeiro.

O período de Abril foi escolhido por ser um mês de grande afluência turística, de modo a atrair o maior número possível de espectadores.

As três primeiras edições contaram com artistas de dimensão internacional como Lenine, Ba Cissoko, Ralph Thamar e Mario Canonge ou ainda Jacques Morelenbaum, Manhattan Transfer, Cindy Blackman-Santana e Maraca Latin All Stars, entre outros.

Os bilhetes para a quarta edição estarão disponíveis aos preços de 1000 escudos cabo-verdianos (de pé) e 1500 escudos cabo-verdianos (sentado) por noite, sendo o primeiro dia gratuito.

Cabo Verde: UniCV declara 2012 Ano da Língua Portuguesa

English: Aerial view of Praia, the capital cit...

Image via Wikipedia

2012 foi declarado oficialmente Ano da Língua de Portuguesa na Universidade de Cabo Verde (UniCV) por despacho do seu reitor, Paulino Lima Fortes, assinado no final do ano passado e agora conhecido.

Para saber mais clique aqui.

– Ano da literatura e da cultura de Cabo Verde em São Paulo

Clique aqui para saber mais sobre este evento.

– Nas ruas intimistas de Lisboa encontramos uma jovem cantora cabo-verdiana!

Estávamos no bairro de Alfama a escutar fado em uma casa sugerida por um conhecido de Angola, apresentado a Zarpante, por uma amiga brasileira! Em uma noite tão lusófona, ainda tivemos a agradável surpresa de encontrar ao pé da casa de fado, logo na saída, dois cabo-verdianos a tocar musica sentados sobre um colchão improvisado em plena calçada! Joceline Medina e Ivan Gomes : voz e guitarra e todos nossos sentidos a flor da pele! Que voz tem esta jovem de Cabo Verde! O vídeo foi filmado como pudemos e apesar de não estar em alta definição representa muito bem o que foi o momento! A performance está nota dez!

Assistam aqui!

– Conhecem Horace Silver?

English: Horace Silver in L.A.

Image via Wikipedia

Horace Ward Martin Tavares Silva, conhecido como Horace Silver, (Norwalk, Connecticut, 2 de setembro de 1928) é um pianista e compositor de jazz norte-americano, filho de John Tavares Silva, de Cabo Verde, e Gertrude, uma norte-americana. Foi um dos principais músicos do hard-bop e do soul-jazz dos anos cinqüenta com um estilo próprio de execução e composição que sofreu as influências do gospel negro, bebop, raízes latinas e de r&b. Horace Silver (originalmente Silva, dada a ascendência caboverdiana), faz um som que agrada aos ouvidos menos treinados ou afeitos ao jazz. O pianista usa e abusa das técnicas mais intrincadas das composições atonais, mas acaba sempre agregando passagens mais acessíveis a essas peças. A expectativa que o acompanhamento das variações dessas execuções gera em torno do tema original é algo impressionante!

Fonte: Wikipédia

Nascido em Norwalk, no dia dois de setembro de 1928, Silver cresceu escutando a música folclórica de Cabo Verde, terra natal de seu pai. Nessa época ele também absorveu o jazz popular, o blues e o gospel. Ele começou tocando saxofone e piano na escola secundária, influenciado por Thelonious Monk e Bud Powell. Silver foi contratado por Stan Getz em 1950 e trabalhou com ele durante um ano.

Apesar de ter nassido na América, por ter pai cabo-verdiano, Horace pode sim ser considerado como sendo de Cabo-Verde! Um representante da cultura lusófona no jazz norte-americano!

Discografia (seleção)

  • Horace Silver Trio (Blue Note, 1953)
  • Horace Silver and the Jazz Messengers (Blue Note, 1954)
  • Blowin’ the Blues Away (Blue Note, 1959)
  • Song for My Father (Blue Note, 1964)
  • Serenade To A Soul Sister (Blue Note, 1968)
  • Jazz has a Sense of Humor (Verve, 19

Esta vai para todos os pais e em especial para o meu! ¨Song for my Father¨ – inspirada em ritmos brasileiros – primeira faixa do álbum homônimo, além de belíssima, funciona como trampolim para as demais composições que externam expressiva atenção às raízes paternais do autor.

– O hino de Cabo-Verde!

– Mayra Andrade!

Letras de Lua:

Luâ fika ku mi más um kusinha
Dexâ-m lambuxa na bo,
Limia nha korpu ku káima!

Luâ dés ki témpu na aitura
Bu limia nórti, bu limia sul
Bu limia préta, bu limia bránka, Luâ!

Luâ riba riba mutu riba,
Pa riba simbrom ku tambarinha,
Riba trópa ku nhu pádri, Luâ!

Lua nóba sima Rikardina
Más rodónda ki Putchutcha
Xeia sima petu-Sheila, Lua!

Lua, limia riba, xeia!
Xeia, lua, limia, riba!

– Princezito

– Playlist sobre Cabo-Verde

– Site suíço/luxemburguês de informação sobre Cabo Verde!

Acesse aqui!

– Judeus em Cabo Verde?

Entrada Cemitério dos Judeus, Penha de França, Santo Antão

Cláudia Correia*, Praia

“Na euforia do resgate das fontes escritas, dos testemunhos e da importância que vem sendo atribuída a este tema, particularmente neste últimos anos, por vários investigadores derivados das suas pesquisas, ficamos a saber que a presença dos judeus em Cabo Verde remonta aos inícios da sua colonização, após a grande dispersão movida essencialmente por factores de ordem económico-sociais, mais do que religiosos e à acção inquisitorial institucionalizada, nos finais do séc. XV na Península Ibérica.

Da sua situação em Cabo Verde nessa época sabemos pouco, mas documentos referem que constituíam uma comunidade que facilmente se adaptou à cultura das ilhas dando por isso importante contributo para a construção da sociedade cabo-verdiana.

Desde logo, tiveram papel importante na rede comercial Atlântica que então se desenvolvia, desempenhando também tal qual em Portugal, cargos importantes na administração judicial, fiscal e financeira das ilhas como contador, feitor, corregedor, provedor, ouvidor, promovendo-se mutuamente.

Como homens de negócios, também exerceram outros ofícios, espalhando-se inicialmente pelas principais ilhas que constituíam pólo de atracção e onde a actividade económica estava mais desenvolvida, Santiago e Fogo.

Todavia e segundo a documentação compulsada, é a partir do século XIX até meados do século XX, que a sua presença em Cabo Verde se torna mais frequente e notória. Judeus vindos de Portugal e outras origens fixam-se temporária ou permanentemente nas mais variadas ilhas do nosso arquipélago, guardando alguns a sua cultura e tradição e desempenhando as mais diversas profissões.

Nesse período Cabo Verde continuava sendo um lugar de eleição, onde, como imigrantes, puderam desenvolver as suas habilidades seculares e que sempre os caracterizou. Apesar de reparamos nas raras legislações emanadas na então província e também da metrópole para a província em relação aos homens de origem hebraica e que continham cariz discriminatórios, na época puderam ainda habilmente contornar a situação e manter a exequibilidade dos seus negócios, adquirindo posições de prestígio e de direcção.

De origens diversas, Marrocos, Gibraltar, Argel e Tunis, muitos deles chegavam com nacionalidades diferentes, sendo na sua maioria além de súbditos britânicos, portugueses, quando o requeressem, e raramente súbditos franceses e espanhóis.

A adopção de uma nacionalidade diferente da de origem, conforme as fontes consultadas, para além da coercivamente adquirida para os nascidos em Portugal por terem fé diferente e por isso mesmo não serem registados na ocasião do baptismo nas igrejas e desta forma serem registados em consulados estrangeiros, fazem-nos pressupor que isso fê-los, no entanto, beneficiar de facilidades de entrada, privilégios, direitos e isenções fiscais outorgados por tratados que se estabeleciam entre Portugal e o país de naturalidade adquirida.

Daí a eleição de Cabo Verde, como lugar de fixação nessa segunda vaga da imigração judaica, dependesse a nosso ver, da sua entrada ou não como súbdito de determinado país com o qual Portugal, a metrópole, tinha estabelecido tratados de cooperação, beneficiando-se das regalias estatuídas.

Assim sendo, entrados na condição de súbditos britânicos, em maior número, verificamos que de acordo com o Tratado de Navegação estabelecido entre Portugal e a Inglaterra em 1842, gozavam de privilégios vários, imunidades e protecção que o arquipélago podia auferir pela legislação portuguesa.

De acordo com as cláusulas deste Tratado, como súbditos britânicos podiam residir, ocupar casas e armazéns, dispor dos seus bens alodiais e enfitêuticos e de qualquer propriedade legalmente adquirida, por venda, doação, escambo ou testamento ou por qualquer outro modo, sem qualquer impedimento.

Eram isentos do serviço militar, de empréstimos forçados ou de quaisquer outras contribuições extraordinárias não gerais e estabelecidas por lei, tendo os mesmos direitos que os cidadãos nacionais.

Da mesma forma, as suas casas de habitação, armazéns, lojas que adquirissem eram respeitados e não sujeitos às buscas arbitrárias a que podiam incorrer.

Beneficiando de liberdade e facilidades comerciais, de isenções de impostos, inspecções judiciais aos seus negócios (décimas industriais e direitos alfandegários), podiam abrir lojas e armazéns a retalho como qualquer súbdito nacional, segundo os regulamentos municipais e policiais, não sendo obrigados, por isso, ao pagamento de tributos e ou impostos adicionais, nem impedidos de contrair monopólios, contrato ou privilégio exclusivo de quaisquer vendas ou compras, tendo a faculdade de livremente vender a quem quisessem e como bem entendessem, sem serem obrigados a dar preferência alguma ou a favor em consequência da obtenção do direito de exclusividade.

Mais do que isso, podiam agenciar os seus próprios negócios ou remetê-los à administração de alguém, como procurador nomeado para o efeito, substabelecer procurações, transmitir por herança os seus bens e tomar posse dos mesmos, ter o livre exercício e uso da sua religião, manifestar as suas convicções religiosas, podendo reunir-se para os objectos do culto público, celebrar os ritos da sua religião nas suas moradas ou em lugares para esse fim destinado e enterrar os seus mortos de acordo com a sua tradição.

Com o direito a esses privilégios, os que entraram, em pouco tempo formaram uma comunidade familiar ou não, estabelecendo-se principalmente nas ilhas de Santo Antão, Santiago, Boavista e S. Vicente.

No arquipélago, formaram associações comerciais entre si e com negociantes nacionais, construíram casas, adquiriram lojas, armazéns comerciais nos principais centros urbanos e obtiveram também, em alguns casos, exclusividade de exploração comercial.

Constituíram-se em grandes proprietários urbanos e rurais sobretudo em Santiago e Santo Antão, desempenhando também altos cargos no funcionalismo público, cargos diplomáticos como agentes consulares de países estrangeiros como o Brasil, Itália, Espanha e Dinamarca. Foram professores, oficiais de justiça, vereadores e escrivães das câmaras dos diversos concelhos do país, escrivães da fazenda pública, regedores de paróquias ligando-se também ao exercício de outros ofícios como empregados e gerentes de casas comerciais, retalhistas, mecânicos, sem se entregarem, embora possuíssem alguns grandes propriedades, ao mister de trabalhar a terra, o que nos leva a crer que tinham homens a seu serviço.

Ainda que não possamos estimá-los, demograficamente nesse período, sabemos que os judeus ou homens de origem judaica viveram em Cabo Verde em número significativo, de acordo com as estatísticas apresentadas para a época, dispondo de excepcionais condições de vida, oriunda especialmente da sua longa experiência histórica (ver Relatório da delegação da junta de saúde pública de St.º Antão pelo Dr. Francisco Frederico Hopffer – “Movimento da população”, B.O. n.º35, 1874).

Dotados de uma espantosa mobilidade geográfica (os judeus são incontestavelmente um povo de migrantes) e como homens de negócios, encontramo-los nas suas relações comerciais e financeiras, cruzando e circulando por entre as ilhas do arquipélago tornando extensivas as suas propriedades e firmas comerciais em quase todo o território, desenvolvendo a nível interno uma extensa rede comercial apoiado sobretudo na base do associativismo e relação de solidariedade que os distinguiu dos demais. A cada mudança de lugar correspondia além de uma simples deslocação física mas também uma oportunidade de negócios. O curioso, apesar de não nos apercebermos do grau de participação, é que mantinham a partir de Cabo Verdes relações com os seus correligionários no exterior, mantendo também relações familiares e sentimentais quer com Portugal, Inglaterra, Gibraltar, Marrocos e inclusive Moçambique.

Sem ser um lugar de refúgio e degredo a que já estavam habituados, Cabo Verde, apesar dos desígnios da natureza e de crise por que atravessou na maior parte do período que correspondeu à fixação dos judeus, particularmente, durante o século XIX e parte do século XX, abria-lhes desta forma a possibilidade de continuarem o desafio ante o qual sempre se depararam de continuar a viver a qualquer preço e de transferirem as suas fortunas, a sua vivência, grau de educação, solidariedade e rivalidades aos seus descendentes, de enriquecer e ascender socialmente independente de seguirem ou não a religião do pai ou de tomarem o seu nome.

Contudo, ressalvamos, que muito embora fossem portadores de diferentes graus de cultura e de requisitos excepcionais para a actividade comercial dentro da situação conjuntural vivida na altura em Cabo Verde, não distinguimos influências exercidas quer a nível de ideais, comportamento e crenças no arquipélago.

De acordo com as nossas investigações e vários inquéritos feitos pelas ilhas de maior concentração judaica, é que não terão deixado qualquer tipo de influências e ou manifestações culturais no país. Cremos, por isso, embora as fontes consultadas não nos permitiram qualquer outra informação, e, por outro, escassa é a documentação que refere directa ou indirectamente a essa influência exercida pelos sefarditas nos costumes e tradição cabo-verdianos, que desses homens de origem hebraica chegados a Cabo Verde em meados de oitocentos, revelando em certos casos a existência de uma endogamia familiar, noutros casos, vindos com família organizada acabaram por se integrar e misturar com o catolicismo, ligando-se também às mulheres da terra formando outra família, respeitando, no entanto as convicções religiosas do seu cônjuge, deixando descendentes aos quais procuraram transmitir os seus ideias, atitudes, crenças mas também bens matérias.

Destes descendentes, na maior parte dos casos, curiosamente, constatamos também, que os que seguiram a religião mosaica foram os de pai e mãe judeus. Nos casos em que um dos cônjuges não era judeu, seguiam a religião da mãe, geralmente católica. Noutros casos, para além dos casamentos mistos, pareceu-nos que os costumes e rituais judaicos diluíram-se na nossa sociedade predominantemente cristã, acabando por apresentar formas de comportamentos variados e seus modos de pensar e viver apresentaram-se-nos de forma pouco compreensível frutos da integração e mistura de várias gerações com a população cabo-verdiana.

Não se sabe ao certo, hoje, quantos judeus vivem em Cabo Verde. O que se pode afirmar é que há muitas famílias com apelidos judaicos de origem peninsular que se reconhecem em nomes como Auday, Cohen, Brigham, Bettencourt, Wahnon, Seruya, Oliveira, Anahory, Benholiel, Levy, Bentubo, Azancot, Izaguy, Abitbol, Zagury, Cagi, Benchimol, Benrós, representando os descendentes uma franja significativa da população.

Comprovativos da sua passagem ficaram também as casas, os cemitérios e os túmulos como os únicos sinais físicos da sua presença em Cabo Verde.

São os chamados pontos de memória que ainda existem nas ilhas da Boavista, Santo Antão, Santiago e S. Vicente.

Ilha da Boavista – Para além das casas de David Benoliel, à família Abraham e Esther Benoliel, do Isaac Benoliel e a capela de Fátima mandada construir por David Benoliel, encontramos em Sal Rei – ao pé do Pico da Rixa ou Rotchinha, um cemitério dividido em duas partes, com oito túmulos, apenas seis em bom estado de conservação da família Benoliel.

Ilha de Santo Antão – Região com maior concentração judia com a existência de dois cemitérios:

  • Ponta do Sol – com sete campas das famílias Pinto, Brigham, Cohen, Ahoday (Auday);
  • Ribeira Grande – Campinas, Alto Penha de França, na subida de Santa Bárbara – com seis túmulos da família Benroz, Maman e Brigham.

Ilha de Santiago – em bom estado de conservação contabilizamos oito campas:

  • Praia – logo à entrada do Cemitério da Várzea, em bom estado de conservação contabilizamos oito campas pertencentes às famílias Seruya, Auday, Benros e Alves. O último enterramento israelita foi realizado em 1918. Terá sido um cemitério separado incorporado mais tarde no cemitério cristão;
  • Santa Catarina – uma sepultura, na propriedade dos Benchimol. De Eliel Benchimol, de Gibraltar, chegado em 1880.

Ilha de S. Vicente – No cemitério municipal de Chã de Cemitério, localizamos apenas dois túmulos da família Benoliel de Carvalho e Cohen.

Os túmulos identificados contêm geralmente o nome, a data de nascimento, origem dos indivíduos e a data de falecimento.

De notar que as escrituras em Hebraico são traduzidos para o Português encontrando-se a tradução feita na base inferior logo a seguir à escritura.

Através das inscrições em português e em hebraico nos túmulos a confirmação que os judeus vieram na sua maioria das cidades de marroquinas de Tânger, Tetuan, Rabat e Mogador (agora Essaouira), de Gibraltar, Argel, Túnis.”

 Fonte: Esquina do Tempo.

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* Cláudia Correia é detentora de um mestrado em História, cuja dissertação, “A Presença dos Judeus em Cabo Verde”, encontra-se publicada em livro (Praia, 1998).

– Diáspora cabo-verdiana!

Diáspora cabo-verdiana (27) from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.

– Perfil urbano do Mindelo:

“Alojamento e Condições de Vida nos Bairros Informais.

 A cidade tem a forma de uma meia-lua, rodeando a Baía do Porto Grande, sendo delimitada pelas colinas despidas de vegetação que a cercam. A sua população duplicou entre 1960 e 1980, e voltou a duplicar em 2005, persistindo numa taxa de crescimento anual de 2,9 % ao ano, que, entretanto, baixou para 1,3% no Censo 2010, mesmo assim superior à média nacional de 1,24%. Este ritmo de crescimento populacional foi acompanhado de uma idêntica expansão do território urbanizado.” Clique aqui e leia o artigo completo!

– Cântico a Cabo Verde:

quem foi que semeou estes pedaços
de áfrica no mar?
alguém que desejou fundir áfrica e europa
no mesmo sonho, no mesmo abraço,
na mesma voz, no mesmo olhar…
 
cabo verde, cabo verde,
arquipelago das ilhas encantadas
no meio do mar atlântico
por mãos sagradas…
vem do fundo das ilhas esse cântico
que flui dentro de nós nas noites de luar!
 
são vicente, santiago,
santo antão, fogo, brava…
a velha canção escrava,
sepultada nas ilhas outrora,
ressuscita liberta nas mornas.
(saudade minha, porque te adornas
com o pranto das lendas que trago
no meu lirismo de agora?)
 
cabo verde, cabo verde,
terra onde o amor se perde
e se redime na paixão ardente…
– vou cantar as tuas mornas,
na saudade da gente
e de todos os seres
que vivem nas tuas ilhas,
onde em sonhos eu sou…
e quero amar em ti as formosas mulheres
nascidas do teu ventre, as tuas filhas
encantadas que só o amor desencantou.
 
cabo verde, cabo verde,
ilha das ilhas prenhes de beleza e de dor,
paraíso crioulo que se perde
e se redime no amor!
 
Geraldo Bessa Victor

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